Duas eleições de relevância aproximam-se.
Uma está à volta da esquina e outra ao fim do túnel.
Desafortunadamente, a nossa participação eleitoral não é a mais favorável. Nas
últimas eleições para as europeias, 66,2% dos eleitores decidiram não votar, mais de metade
da população. Poderia acreditar que fossem eleições pontuais, em que as
pessoas, porque motivo fosse, não tivessem conseguido votar. No entanto,
verifico que tanto nas europeias (66,2%), como nas presidências (51,3%) a
abstenção continua muito alta!
Investigando mais
detalhadamente os dados de abstenção das nossas eleições concretizo que desde
1975, em que as legislativas representavam uma taxa de abstenção de 8,5%,
40 anos depois, este número acabou por subir para 44,1%.
O 'não votar' parece que continuou com as europeias com a primeira eleição dos nossos
eurodeputados em 1987, representando uma abstenção de 27,8%, número que mais
do duplica em 2014 chegando a 66,2%.
Infelizmente, em muito não diferenciam
as presidênciais, com uma abstenção de 24,6% em 1976 e 51,3% em
2016. E, por último, as autárquicas, que transmitem uma maior sensação de
proximidade para com os cidadão cidadãos, no entanto, desde 1976 com 35,4%
de não votantes e 41 anos depois, chega a representar uma percentagem de 45,1%!
Saber que outras pessoas, principalmente os jovens de hoje em dia, têm vindo a ter um
crescente desinteresse pelas decisões que são tomadas no país, deixa-me, no
mínimo, preocupado.
Constatar, com o movimento “VOLTA ÀS ESCOLAS” da JSD Amadora, que uma
grande proporção dos alunos não sabia responder a perguntas como “Quem foi o
antigo Presidente da República” ou “Em que ano é que Portugal entrou para a
CEE”, leva-me a perguntar inúmeras vezes o que é que pode estar a falhar? Será
que são os partidos políticos que não se fazem ver o suficiente? Será que são
os programas eleitorais que não satisfazem? Será a perda de credibilidade?
Todos estes números leva-me
à reflexão e consequentemente à conclusão de que muitos dos nossos futuros
adultos têm um certo ceticismo em relação à eficácia dos partidos políticos.
E o que é certo é que esse ceticismo aumenta quando vemos antigos governantes
como um dos responsáveis máximos pela desastrosa governação que originou um dos
momentos mais críticos do nosso país. Que originou o endividamento de várias
famílias. Que originou uma saída em grande percentagem de jovens recém formados
que acabaram por desenvolver um sentimento de tristeza por não terem
oportunidades na sua própria casa. Importante referir que, nas últimas
legislativas, 88,3% da população residente no estrangeiro não votou!
A falta de exposição às
informações políticas poderia ser outra razão para a abstenção jovem. Ouvir
a rádio, para muitos já é antiquado, e ligar a televisão hoje em dia torna-se
cada vez mais complicado e pior será ver um canal informativo. Esta população
que já não se guia pelo meios tradicionais, não desapareceu. Está é mais
concentrada no mundo da internet, das redes sociais, das séries, dos filmes…
Às razões apontadas,
somaria ainda a insatisfação com a atual democracia, como o distanciamento
com a política, como reforça o estudo “Os jovens e a política”.
Encontradas as causas, o que é que poderia fazer levar um jovem a ir às urnas?
“Esse esforço
não dispensa algo de muito simples: ouvir o povo e falar-lhe com verdade.
Vender ilusões não é, seguramente, a melhor forma de fortalecer o
imprescindível clima de confiança que deve existir entre os cidadãos e a classe
política”, dizia Cavaco Silva em 2008 à margem das comemorações do 25 de abril.
Creio que não poderia estar mais de acordo, e que as palavras citadas, onze
anos depois, se adequam na perfeição aos dias de hoje. Voltar a conquistar a
credibilidade política que outras pessoas em outros momentos a destruíram,
na base da prontidão, verdade e eficácia.
Todavia, acrescentaria a hipótese de
trabalhar no local onde passam mais tempo e, adequadamente, de maneira
responsável, saber potencializar em todos os anos letivos (pelo menos a partir
de secundário), intercalando com o programa, a necessidade, a importância, a
relevância que um voto pode ter na eleições. Indo relembrando de maneira
aprazível que, como cidadãos que futuramente serão os adultos do amanhã, que devem
exercer o seu direito sempre que possível. Transmitir o incentivo dum maior
empenhamento cívico. Não fazer esquecer que nada é dado como adquirido e
que temos que preservar, defender, aperfeiçoar o que há 45 anos foi conseguido
com tanto esforço e ânsia. Isto em paralelo com as instituições partidárias, como
as iniciativas das “voltas às escolas”.
Continuar a chegar o mais perto das
pessoas não apenas quando se aproximam as eleições, mas tentar fazê-lo
constantemente que para não se sentirem esquecidas e saberem que estamos
constantemente a trabalhar por elas, a debater por elas, a apresentar resultado
por as sabermos ouvir.
Acredito que há mais do que razões para continuar a
trabalhar no sentido da mudança, por parte das juventudes partidárias, dos
partidos políticos, das associações, das organizações, porque a insatisfação continua
presente e o sentido político também! Falta despertá-lo!
A necessidade de
transformar, de remodelar está latente na memória dos jovens e não há ninguém
melhor do que a nossa juventude para nos ajudar na luta pela construção de uma
estrutura mais fidedigna, inovadora e funcional.
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