Abstenção: da Educação à Informação

O triângulo da sobrevivência




O triângulo da sobrevivência.
Por Marco Monteiro, Secretário-Geral da JSD Amadora

A sobrevivência e prosperidade de qualquer território, seja este um País ou, apenas, uma Freguesia, depende sobretudo de pessoas. São as pessoas que, ao escolherem determinado local para se instalarem, garantem que o mesmo sobrevive à desertificação. É a procura por determinada região que assegura a oferta privada e/ou pública de um conjunto de condições, permitindo que algumas zonas se desenvolvam mais e de forma mais célere que outras. A questão essencial é perceber o que motiva uma pessoa, sobretudo um jovem, a escolher determinado local em detrimento de outro.
Como referido por Charles Tiebout, nos anos 50 do passado século, “as pessoas votam com os pés”, aludindo à ideia de que, criados determinados contextos, as pessoas escolheriam um determinado local para estabelecer a sua vida pessoal e profissional, abdicando de todos os outros. Mas que condições são essas?
Existem, acima de todas as outras, três razões: oportunidades de emprego, impostos e custo de habitação.
Esta realidade é tão mais verdade para a população jovem adulta, que procura um local para começar a sua carreira e, paralelamente, residir e/ou construir família, do que para qualquer outra faixa etária.
Particularizando em termos Municipais, é fundamental compreender que a retenção e a captação de jovens depende, em larga dimensão, das garantias que um determinado Concelho oferece, sobretudo, no que toca ao rendimento. Não podemos, naturalmente, esquecer os serviços públicos básicos que suprimem as necessidades sociais (educação, saúde, segurança, justiça, etc), devendo existir um equilíbrio entre a sua oferta e a população existente. Não devemos é olhar para este tipo de serviços como o principal fator de atração de população para um determinado território. Afinal de contas, os portugueses que emigraram não o fizeram porque na Alemanha ou na Suíça existem melhores maternidades ou tribunais, mas antes porque existe emprego e superiores salários.
Olhemos para o caso concreto da Amadora. Existe uma absoluta ausência de priorização no que ao “emprego jovem” diz respeito. A Amadora tem hoje, nos jovens adultos, uma população qualificada e que, em grande percentagem, deixa fugir para concelhos vizinhos, não apenas por não conseguir captar investimento externo para o Concelho, mas, e ainda mais frustrante, por não acolher e desenvolver projetos e modelos de negócio que são externamente aproveitados. Verifica-se a ausência de um projeto, semelhante a Municípios de referência, que sirva como uma incubadora destinada a fornecer os jovens de ferramentas e capacidades para explorarem oportunidades de negócio dentro do seu Município. O sucesso destes jovens seria, igualmente, o sucesso da Amadora, uma vez que revelaria a criação de postos de trabalho (internos e/ou externos), a tributação fiscal dentro do próprio Município (receita pública superior) e a criação de riqueza (maior consumo e investimento). Esta seria uma mudança paradigmática que traria valor, económico e social, ao Concelho e cujo esforço financeiro seria manifestamente inferior ao retorno.
É conhecido, e não menosprezado, o valor da instituição/incubadora Amadora Inova, com trabalhos de ordem social significativos, sobretudo ligados à comunidade escolar. No entanto, quando se fala de iniciativa empresarial e de criação de postos de trabalho, pouco se poderá argumentar com base na referida entidade, ao contrário do que acontece noutras incubadoras do Distrito de Lisboa: Startup Sintra, Loures Inova e Tec Labs (Lisboa). Estes são, apenas, um pequeno exemplo de instituições (apoiadas pelas respetivas Câmaras Municipais ou por Institutos de Ensino Superior Público) que apostam nas ideias dos empreendedores e das empresas locais, dotando-os de ferramentas teórico-práticas (planos de negócio, possibilidades de financiamento, oportunidades de marketing, formação em comunicação, etc) que lhes permitem vencer no mercado de trabalho. Abdicar desta realidade é desaproveitar o potencial humano e empreendedor amadorense, perdendo-o para outros Concelhos devidamente apetrechados.
Também os impostos e as taxas assumem uma importância crucial quando um jovem adulto decide ficar ou deixar a Amadora. A elevada tributação funciona como um fator dissuasor para a instalação pessoal e profissional de qualquer cidadão, uma vez que este é obrigado a usufruir de um menor rendimento disponível. Este cenário é negativo em três sentidos: leva a um menor nível de consumo, a um investimento mais reduzido e, em último caso, a uma saída do Concelho. Os objetivos de longo prazo são, assim, suplantados pela receita fiscal de curto prazo. Basta olhar para os dados empíricos fornecidos pela OCDE para se perceber que os países onde a iniciativa empresarial é maior são aqueles que oferecem uma menor carga fiscal associada à desmaterialização administrativa (menor burocracia). Se a Amadora pretende ser fiscal e competitivamente responsável tem que, obrigatoriamente, criar um sistema tributário municipal que garanta que os jovens preferem este Concelho a qualquer outro. Este sistema deve, não apenas, considerar a carga tributária sobre o trabalho, mas também sobre o consumo, as famílias e, por fim, a habitação.
Como todos sabemos, a habitação é, provavelmente, a despesa mais pesada, sobretudo quando se fala de um jovem em início de carreira e cujos rendimentos são, ainda, incipientes. Ora, para garantir a atração da população mais jovem, a Amadora deverá olhar para o setor do alojamento, sendo este de venda ou de arrendamento, sob uma perspetiva de revitalização do Concelho. O mercado imobiliário deve, como qualquer outro mercado, obedecer a regras de competição associadas à procura e à oferta, refletindo os preços aquilo que são as necessidades do Concelho e a retenção/captação de população jovem, em equilíbrio com a proximidade geográfica com a cidade de Lisboa. É, igualmente, importante não esquecer que, há menos de um ano, a Amadora (a par de Odivelas e Matosinhos) era o Concelho onde os preços das habitações mais subiram em Portugal, tal como disposto, imediatamente abaixo, pela notícia do jornal ECO.




Para além da vertente económica, associada à receita fiscal e aumento do consumo privado, também a solidariedade inter-geracional entra em jogo, sendo mais do que conhecida a assimetria entre gerações no Município da Amadora, a qual poderia ser atenuada com o desenvolvimento do setor imobiliário.
O aprimorar das três vertentes referidas, em permanente equilíbrio com a adequada oferta de serviços públicos, potenciaria o rejuvenescimento e a criação de valor no Concelho da Amadora, cujos dividendos, recolhidos nos anos vindouros, seriam manifestamente importantes. Para que as apreciações não corram o risco de se tornarem inócuas, apresenta-se, abaixo, sistematizado um conjunto de propostas para reflexão, com base nos três fatores analisados: oportunidades de emprego; tributação; habitação.

Oportunidades de emprego
Criação de uma incubadora que permita desenvolver os modelos de negócio da população amadorense, dotando-a de ferramentas que lhes permitam obter sucesso empresarial (planos de negócio, possibilidades de financiamento, oportunidades de marketing, formação em comunicação, entre outros);
Estabelecimento de parcerias com empresas que garantam a empregabilidade da população amadorense, com contrapartidas fiscais, tendo em conta que o abdicar de receita fiscal de curto-prazo seria compensada pela retenção de jovens e pelo consumo e investimento futuro que os próprios fariam no Concelho;
Aluguer de espaços físicos e terrenos a um preço simbólico a projetos de negócio internos/externos que visassem a empregabilidade exclusiva de amadorenses.
Adoção do modelo “coworking”, destinado a dotar diversas empresas de um espaço físico único, apetrechado com sala de reuniões, equipamento informático e de projeção, internet, mobiliário e outros elementos básicos e essenciais para o desenvolvimento da atividade empresarial. Este investimento visaria o reaproveitamento de infraestruturas devolutas que, tanto esteticamente como em termos de segurança, tanto preocupam os amadorenses, e seria pago pelas empresas que dele usufruem com uma mensalidade que variaria segundo o tempo de utilização e os recursos aproveitados. Este é, também, um modelo de sucesso nacional e internacional.

Tributação e Habitação
Redução da taxa de IMI para as empresas que garantissem a contratação de, apenas, população jovem amadorense.
Redução de impostos e de taxas municipais para a população jovem que decidisse começar a sua vida, pessoal e profissional, na Amadora.
Redução do imposto de Derrama (tributação do lucro empresarial), exigindo que o valor que ficaria por tributar fosse aplicado em investimento na própria empresa e/ou na contratação de novos funcionários amadorenses.
Atribuir a todos os moradores e trabalhadores do Concelho da Amadora um dístico que permita aos mesmos estacionarem sem custos.

Apostemos nas novas gerações para revitalizar a Amadora!

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